Entre balas de tamarindo, açai com farinha e uma “ruma de comida com Caju” em algum lugar entre a fronteira- eu me encontrava

Letícia Moreira
2 min readJul 1, 2021

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Uma playlist da pagode embalando meu sono enquanto as raízes me passeavam, massageando o corpo. Fui uma criança criada no Rio, mais especificamente na pavuna- alô village. Pracinha, brincadeiras,bala de tamarindo- alias é uma das coisas que mais sinto falta- as idas a praia muito esporadicamente, porque o Rio tem dessas, varias cidades dentro de uma só, e a praia pra mim era algo muito distante, um universo paralelo. Digo que o Rio me criou, mas só fui crescer mesmo em Belém. Foi como uma mãe de criação e só tive a oportunidade de conhecer minha mãe biológica um mês antes de completar 16.

Numa sucessão de ondas de revolta fui conhecer forçadamente a cidade que me pariu.

Um choque de cultura me atravessou o corpo inteiro

O calor umido, as praias de rio, ver o peso com cheiro de peixe. Eguaaa! e eu tentando me encaixar com meu sotaque carregado de exxxxperieeencias cariocas, demorei a me enxergar como parte do todo… uns anos depois já detestava qualquer açai que não fosse o com farinha de tapioca e peixe, e as exxxxxperincias já tinha se transformado em experiencias, ou pelo menos exxperiencias. A praia, os rios não eram mais universos paralelo. Belém me educou, tirou meu olhar prepotente suldestino, me fez reenxergar minhas origens, me misturar ao calor e a chuva do fim de tarde me materializando bem ali no mormaço de todo dia.

Quando enfim a amazônia era água que movimentava meu corpo…

me vi longe, e mudanças e recomeços outra vez- mas dessa vez com o tempo marcando data limite no calendário, tinham obrigações e ritos que me empeliam ao retorno. Que não sabia bem quando aconteceria, mas sabia que aconteceria. Enquanto isso outra terra temporariamente me adotou e me mostrou historias a contar, historias de mãe, de avó, bisavó, historias que Rio nunca me contou e historias que pouco me debrucei em Belém.

Todo lugar tem historias a contar, as vezes o olho não ta bem aberto, embaçado de saudade.

me questiono que outros lugares nesse brasil a fora eu ainda vou chamar de casa, em que cidades meus pés curiosos vão desbravar, explorar, brincar de ser. em meio aos questionamentos a playlist de pagode torando no ouvido com Exatassamba e as memórias circulando no ouvido, baixinho pra não atrapalhar o som.

Não importa o lugar, o importante é lembrar da onde veio.

E eu lembrava das minhas duas mães que me pariram, me criaram, me fazendo crescer. Entre balas de tamarindo, açaí com farinha e uma infinidade de comidas com Caju, em algum lugar bem ali na fronteira, eu me encontro

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Letícia Moreira

Artista de alma livre, sonhadora. Escreve no fazia poesia