Letícia Moreira
4 min readJun 7, 2021

Lançamentos- Dona Ioiô e chaves que ainda moram no bolso

O primeiro lançamento de um livro- e o único- que fui- além do meu- foi o da Dona iôiô. Talvez você se pergunte quem é dona Iôiô, minha avó, vó de uma amiga, minha mãe? A verdade é que… bem essa é uma longa história.

Era mais um dia de uma jovem de 18 anos, entre livros e exercícios pré vestibular, o tédio morava em cada página dos livros didáticos. Uma sexta feira, então a brilhante ideia passou como flash, desafiar a rotina, sair do mesmo, cansada de shoppings, programas rotineiros. Foi então que vi na bolsa o que me parecia ser um mapa do tesouro, um guia cultural do Sesc da minha cidade- então Belém. E aí pah

Uma exposição fotográfica, com guia comentando pelo próprio autor das obras, um fotógrafo reconhecido, não era da cidade- nessa época sem conhecimento do corre dos artistas locais- era um alerde aos olhos.

Chamei a Adrielle- ainda éramos inseparáveis- um trio aventureiro, junto a Liliane- as quais também não faltam historias- Ela topou na hora, Fui com um vestido azul longo, gastei todo meu figurino de sair.

Chegando lá fomos recepcionadas e orientadas a subir ao 1 andar.

“ voces vieram pro evento né? que ta acontecendo hoje, o das 19 ne?”

“ sim a gente veio prestigiar a …”

“ primeiro andar pode subir, já começou”

Cada degrau, uma expectativa, cheiro do novo dançando no nariz. Não porque fôssemos grandes amantes da fotografia, mas na adolescência éramos sedenta por estreias, algo que tirasse o corpo das linhas cotidianas. O salão tava cheio- não lotado ao ponto de não ter mais lugar- mas cheio o suficiente pra gente se perguntar “ quem é essa gente toda”. Não que nesse tempo conhecemos muita gente, enclasuradas na nossa bolha- colégio casa. Bom pra uma exposição fotográfica, estava cheio até demais.

“o proximo a cantar é o Gabriel, que veio de …”

nos olhamos num piscar de segundos, cúmplices, sincronizadas. Ninguém tinha avisado que também teria show.

“ quem é esse cara?” ela me olhou como se eu dominasse as chaves secretas daquele mundo- tão artistico, talvez porque elas sempre moraram no meu bolso, e não era capaz de enxergar isso.

“Não faço ideia, mas pelo menos é bonitinho”

A risada costurava a parceria.

mais algumas músicas, algumas poesias recitadas, uma salva de palmas, e a gente lá sentadas, duas desconhecidas daquele mundo tão paralelo.

“ Leti, quando o fotógrafo vai começar a expor?

“ não sei Dri, eu acho que…”

E com a palavra agora, ela Dona Iolânda. Nossa Iôiô.

Os olhares e as risadas nos atingiram em cheio enquanto nos camuflavamos silenciosamente em risadas baixinhas.

Iôlanda..

“é com prazer que compartilho com vocês hoje, esse dia tão aguardado… tão especial, é uma honra ver cada um que veio aqui prestigiar esse lançamento reconheço cada rosto, cada amigo, e até mesmo alguns fãs que estão aqui... não foi facil lançar esse meu primeiro livro...”

Tentamos despencar e rolar em riso, mas força que nos impelia era maior.

Deciframos os códigos, então era isso,todo aquele show, os musicos o lançamento da f dona iôiô. E nos as “fãs” estavam ali pra prestigiar.

“ Leti, tu não disse que era uma exposição de fotos?”

“ e era Dri, era pra ser. Eu não faço a mais remota ideia de quem é dona ioiô”

peguei meu panfleto do evento, não poderiamos ser mais bestas

“ Lançamento do livro infantil “pipipopo”( ja deu pra ver que não lembro o nome do livro né haha- é exigir muito da mente os detalhes dessa ha 7 anos atrás) da escritora Iôlanda.

1 andar

exposição fotografica blabla- hehe olha a memória aqui dando um salve de novo- no segundo andar.

Olhamos juntas, dessa vez não mais camufladas. Nós as “fãs” riamos como se todo aquele universo paralelo fosse a cantina do colégio.

“ai Letícia so tu mesmo pra trazer a gente pra cá, pro lançamento da… Dona ioiô!

“ agora não da mais pra ir pra exposição porque essa hora já deve ter…

eles desciam sorridente- a turma da exposição- o fotógrafo de fora, ostentando sua camera na mão e um largo sorriso.

FD

“ ter acabado” ela completou por mim- o que nossos olhos já tinham dito mais rápido que eu-

“ ah pelo menos vai ter coquetel”

Agora eramos camufladamentes parte daquele universo- e eu nem sabia que já tinha a chave no bolso-

Foi assim que peguei uma linda diarreia pós coquetel- na manhã seguinte

e é assim que ao lançar meu primeiro livro num evento digital lembro dessa noite “camuflada” esses momentos passeiam a memória, floreando o coração e fazem a Letícia de 18 anos lembrar, do que talvez alguém, naquela época já sabia- ou ao menos desconfiava.

"Quando tu escrever teu livro conta essa história"
Escrevi o Gotas de Rio a venda na Amazon, mas dedico minha estreia na newsletterr com essa lembrança ainda ao alcance do tato com cheiro de coquetel e gosto de peraltisse

E as chaves continuam no meu bolso.

Letícia Moreira

Artista de alma livre, sonhadora. Escreve no fazia poesia