Oxigenando os roxos

Letícia Moreira
2 min readJun 15, 2021

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Ontem uma música em francês me capturou num impulso, prendeu os sentidos, me paralisou por inteiro.

“guerir les bleus”
Traduzindo de forma mais poética ao português seria curar os roxos.. e tantos roxos que habitam a tonalidade da minha pele, se escondendo pela epiderme,debaixo do cabelo, atrás da nunca, nos joelhos… uns ainda presente, outros oxigenaram.

Eles oxigenaram ganharam outras tonalidades, de violeta a todo arco ires.

As pausas, andaram descalças, despida, se esconderam atrás da porta, esperando um tempo uma fresta, um buraco na janela, enquanto os roxos se despediam da tonalidade original.

Tudo- ou quase tudo- na minha vida sempre precisou de pausa, distância, gritando a necessidade de tomar espaço, pra voltar com nova pele, descamando tudo que o espaço extinguiu, voltando com fúrias, suando em cada poro. O teatro, yoga, o francês- tudo aquilo que me compõe em cada nota em dó maior teve seu momento de andar descalço, despido, pra longe, pra ganhar espaço, pra ceder lugar a outras inquietações, menos eles- o fruto do ventre em carne e sangue, e o fruto do eu, que vaza no papel, flui nas linhas e parágrafos. Os pilares que não apenas compõe, mas sustentam todo ser.

Ganhando espaço, vieram também os roxos que até descamarem em nova cor, precisaram estar distantes, emboras estivessem ali, embricados no eu, a distância precisou ser pega pela mão…a cura foi a transmutação no violeta, azul bebe até outras cores que a iris não tinha fotografado, a cura foi, e é pela palavra, o pilar que sustenta, levita, estrutura cada osso. A beleza da oxigenação foi escrita, inscrita. Passou pelos sentidos, por cada cheiro, gosto, tateando toda pele demarcada pelo preto onde alguns roxos se esconderam. O roxo não é mais sinônimo de dor, o roxo se transmutou em lugares de resistência, ocupação de um corpo que dança em constante movimento. A beleza se esconde entre o tempo dos roxos estampados e descamação de novas cores, soltando pele a pele… oxigenando

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Letícia Moreira

Artista de alma livre, sonhadora. Escreve no fazia poesia