Pés flamejantes voando até lugares habituais

Letícia Moreira
2 min readDec 14, 2021

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A única sentença a qual minha mente não bate o materlo, é a mesma que me persegue em todas minhas noites insones: Ficar ou ir embora. Talvez não tenha resposta definitiva, ou quem sabe eu mesma já saiba a resposta e negue, a oculte e numa temosia frenetica a pinte de cinza.

Das outras vezes eu sempre tive um pretexto forte o suficiente pra sustentar esse lodo que me agarra pelas pernas toda vez que estou proxima de mais do que digo querer, e meus pes flamejam toda vez que chego perto de mais- ficar longe me cobre de um manto verde cor de vômito, que meu corpo sabe bem a forma, ainda que meus olhos supliquem em segredo por outra cor.

A cabeça tonteia, talvez a sentença esteja em não ter, porque silêncio, ainda que na mente, também é ebó- no fundo não tem mistério- sei é muito bem. Conheço os movimentos que meu corpo faz, ainda que automático. A única sentença que minha mente não bate o materlo é aquela que quero esconder a execução de mim mesma, mas ela se sussura ao pé do ouvido se carimbando em cada noite branca.

Essas noites, eclipsadas entre passado e presente, num branco véu, que descortina tudo.

Essas mesmas noites me fazem lembrar que rotaciono com tudo ao meu redor, enquanto quero fugir daquilo que me trava o estomago e me tremulam as mãos. Eu corro ainda temendo que as pernas não deem conta de alcançar destino esse, que desconheço a rota, talvez pra mais do mesmo … Um lugar que o ar se paraliza nos pulmões, meus olhos encontram o chão enquanto a mente fala baixinho com medo de ser ouvida “ até quando isso?”

Até o gosto de cigarro se findando saia da boca e o medo abra as portas pro desejo de menta, pro verda vivo- não mais cor de vômito- e sim alecrim e alfazema. Enquanto isso o ar segue o mesmo fluxo, comprimido e as pernas ganham vida propria, parelala

Prontas pra fuga até os pés flamejarem

Toda vez que as portas desse lugar apertado,úmido com granulados de cinza ousam se abrir, sem convite, sem tempo, sem vez. Talvez, só talvez… Os rios que me saculejam não sejam fortes o suficiente pra abafar o gosto do cigarro, que não chega ao fim, não se esgota… Pitty já disse “ficamos com o sonho ao invés da punição” me pergunto se punição não seria sempre deixar as pernas ganharem ritmo próprio até os pés flamejarem e não sobrar mais rastro do que passou… Enquanto o toque das cinzas perdurarem na minha boca e minhas marés não encherem novamente, seguirei nesse labirinto entre sonho e punição de pés flamejantes: que precisam aprender a hora de parar.

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Letícia Moreira

Artista de alma livre, sonhadora. Escreve no fazia poesia